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Foto: Gilton Andrade/CMA

“O hip-hop é a cultura de um povo massacrado pela falta de oportunidades”, afirma a vereadora professora Sonia Meire em Audiência Pública sobre os 50 anos do hip-hop

Na tarde desta segunda, 13, a vereadora professora Sonia Meire (PSOL) realizou a Audiência Pública: “Dia mundial do hip-hop: fortalecimento da cultura hip-hop enquanto patrimônio cultural do município de Aracaju”, em homenagem ao cinquentenário de nascimento do hip-hop no mundo. Foi realizado um debate excelente e qualificado com coletivos e artistas do hip-hop de Aracaju e ampla participação popular, com destaque às políticas públicas na defesa e valorização da cultura hip-hop.

O presidente da Nação Hip-Hop Brasil em Sergipe. Luis César (Griot Nagô), exaltou a caminhada do hip-hop, ao mesmo tempo em que destacou o compromisso da Câmara Municipal em fazer cumprir as leis já aprovadas. “Todos os dias resistimos, o hip-hop é uma cultura de crítica, retórica, e construção. Construímos uma história fértil e o resultado se reflete nas novas gerações, que seguem praticando o hip-hop em todos os ambientes. Porém, temos algumas leis, como a da Semana Municipal do Hip-Hop em Aracaju e a da Semana Estadual do Hip-Hop, que não são cumpridas. A lei é rígida com o nosso povo e a prova disso está nos presídios e centros de acolhimento para adolescentes. Então, que a Câmara assuma para si a sua responsabilidade em cumprir as leis que exaltam a nossa cultura”, afirmou o Griot Nagô.

A dançarina de break dance, Diana Ferreira, abordou os desafios para que o povo do hip-hop tenha acesso às políticas públicas de cultura. “O Poder Público quando lança editais, estipula prazos que a gente não consegue cumprir, a gente não tem condições de participar. Mas, a gente nasceu como uma forma de protesto. A gente protesta contra quem não nos escuta, quem finge que a gente não existe, quem quer dificultar nosso caminho e fechar as portas na nossa cara. Mas a gente resiste, luta muito e a gente sabe que se as portas não abrirem, a gente vai chegar chutando e fazer acontecer de qualquer forma”, afirmou a bgirl.

O rapper Mano Sinho, da Associação Sergipana do Hip-Hop e do Aliados pelo Verso, falou sobre a importância do hip-hop em sua vida. “O hip-hop me encontrou em um momento tão difícil, me fez entrar em ambientes e lugares que, se não fosse essa cultura, eu não entraria. O hip-hop me fez entender que, tudo que fizermos pelo próximo, precisa ser feito com amor. Nós somos um movimento político e temos que compreender que o hip-hop salva vidas e nos dá consciência do nosso papel”, afirmou Mano Sinho.

Resistência e sabedoria das ruas

O integrante do grupo de hip-hop Resistência Periférica, o MC Yoran Rayckard, destacou a sabedoria das ruas que o hip-hop proporciona. “Não é porque nossa atuação se dá nas ruas que a gente não pode se apropriar do discurso, da teoria e da construção dialética e pedagógica, necessárias à emancipação do nosso povo. A gente sabe que é na rua, a partir das contradições que estão colocadas, que a gente constrói a transformação e se coloca como ferramenta de transformação da sociedade. E aqui cumprimos o papel de transformar a sociedade e colocar a nossa contribuição, enquanto construtores do movimento na rua”, afirmou Yoran.

O grafiteiro Talisson Santos abordou a importância do hip-hop para o despertar da consciência. “Quando se tem politização e consciência, a gente fica mais forte ainda. E nós somos a arma, não a arma de fogo, mas a arma de consciência sobre o nosso povo”, afirmou Talisson.

A poeta e integrante da Frente Nacional de Mulheres do Hip-Hop, representando o GT Sergipe, Anne Souza, falou sobre a importância da incidência política do movimento para conquistar resultados. “Estamos lutando pelo fortalecimento do movimento hip-hop enquanto patrimônio cultural de Aracaju. A construção do GT Sergipe é inédita, é uma articulação que teve início em fevereiro e acontece a nível nacional. Produzimos inclusive um inventário com mais de 100 páginas, falando sobre a história do movimento hip-hop em Sergipe e sobre as nossas vivências, feito de forma coletiva”, destacou Anne.

Articulação e processos locais

A mãe, rapper, mestre de cerimônia, arte educadora, grafiteira , produtora cultural, atriz e modelo fotográfica, Manu Caiane, falou sobre a importância de fortalecer os processos locais. “Se a construção nacional do hip-hop não tem sido fácil, imagine na região Nordeste Por isso, precisamos somar mais forças para a construção em Sergipe. A xenofobia é grande contra nós e nós temos que lutar contra a invisibilidade e a desinformação”, explicou Manu.

A deputada estadual pelo PSOL em Sergipe, Linda Brasil, fez uma fala de estímulo e destacou o apoio da mandata à cultura hip-hop. “Colocamos a mandata à disposição do movimento, que é fundamental para a nossa cultura. A gente sabe os desafios para a consagração do hip-hop como um movimento cultural, até mesmo para nós, parlamentares da oposição, que temos limitações para aprovar projetos. Mas, precisamos resistir e seguir firmes na luta”, estimulou a deputada estadual.

O artista e grafiteiro, Dalvam Dext, falou sobre a importância de se reconhecer o hip-hop como patrimônio cultural de Sergipe. “Há uns anos atrás escutei de um secretário de cultura que o hip-hop, a capoeira, o reggae, não é a cultura de Sergipe. Por isso, precisamos ressaltar a importância de considerar o hip-hop como patrimônio imaterial de Sergipe. Nós, do hip-hop de Sergipe, temos a nossa estética, nossa dialética, os nossos problemas, a nossa luta, a expressão da nossa cultura local”, afirmou.

O músico e integrante do GT Hip-Hop de Sergipe, Feroz, abordou a amplitude do movimento hip-hop. “O hip-hop é mais que um gênero musical. É uma cultura que abraça a dança, a música, a poesia, a expressão artística e é justamente essa cultura que nos conecta a uma luta de superação e resiliência”, disse o DJ Feroz.

O rapper NG Lampião da Rima, que compõe o Baile de Preto, falou sobre a importância de conquistas reais para as/os artistas do movimento. “O que o hip-hop representa para nós é diferente do que representa para um branco acadêmico. Receber um papel na Câmara vai me proteger da polícia na rua? Quero que a gente saia daqui não só com belas palavras, mas com ações. Precisamos destacar a importância dos editais para o movimento hip-hop sergipano de rua”, destacou NG Lampião da Rima.

A vereadora professora Sonia Meire (PSOL) destacou a importância do hip-hop para alimentar o sentimento de esperança na população mais oprimida. “O hip-hop fomenta nas mais populosas periferias da capital sergipana a construção de sonhos, trazendo a voz dos que não têm voz através da música, do rap, das danças. É a cultura de um povo massacrado pela falta de oportunidade, mas que descobre e compartilha todo um aprendizado que cura e liberta e que faz a revolução todos os dias, que traz esperança através da arte”, destacou Sonia Meire.

Projetos de Lei

A vereadora do PSOL protocolou recentemente o Projeto de Lei n° 314/2023, que visa reconhecer o hip-hop como patrimônio cultural e imaterial do município de Aracaju. Além disso, protocolou também outros PLs que dizem respeito à criação da Frente Parlamentar em Defesa do hip-hop em Aracaju e à inserção do breaking no Programa de Auxílio Atleta, visando a sua inclusão como esporte olímpico nas Olimpíadas de 2024.

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