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Foto: Gilton Andrade/CMA

Audiência Pública convocada pela vereadora professora Sonia Meire debate a violência de Estado e a luta do movimento negro

Na manhã desta segunda, 20, a vereadora professora Sonia Meire (PSOL) realizou a Audiência Pública “Dia da Consciência Negra: a luta do movimento negro e das famílias contra a violência de Estado, por reparação e justiça”, na Câmara Municipal de Aracaju (CMA). No dia em que se celebra o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, instituído pela Lei Federal nº 12.519 de 2011, a Gabineta Popular recebeu no plenário representantes de grupos e coletivos antirracistas, movimentos sociais, gestores públicos e familiares de jovens negros assassinados pelas mãos do Estado.

Para a vereadora professora Sonia Meire (PSOL), a luta antirracista deve ser prioridade na articulação entre o Poder Legislativo e o Executivo. “Desde que assumimos esse lugar na Câmara, nós seguimos uma luta política guiada pelos coletivos e movimentos sociais, entre eles o movimento negro. Chegamos aqui com o apoio de lutadoras e lutadores para atuar na defesa pela vida. e o nosso papel aqui é defender a classe trabalhadora e um modelo de segurança pública que não mate o nosso povo”, destacou a vereadora do PSOL.

A viúva de Genivaldo dos Santos, Fabiana dos Santos, relatou suas dificuldades em seguir sua vida e criar seu filho, desde que seu marido foi assassinado por policiais rodoviários federais, em maio do ano passado. “Perder um marido da forma como eu perdi não foi fácil e até hoje venho sofrendo para criar meus filhos. Venho passando por muitas dificuldades, enfrentando processos judiciais e sendo taxada como oportunista, porque não tive uma certidão de casamento ou de união estável. Mas convivi 17 anos com uma pessoa que tinha esquizofrenia e fui curadora dele. Estou lutando para que minha família tenha, no mínimo, uma vida digna”, afirmou Fabiana.

A mãe de Josué, Leonilda Alves Oliveira, também relatou o sofrimento, pela perda do filho. Josué foi assassinado com três tiros em uma abordagem policial no município de Lagarto, enquanto trabalhava como motorista de aplicativo. “As famílias e as mães estão amedrontadas, não confiam mais na polícia e nos órgãos do Estado. Respeitem-nos, somos pais, mães, temos famílias, somos gente”, apelou a mãe de Josué.

O jovem Charles José Santos, fez um relato doloroso e emocionado a respeito de como a família tem tentado se reerguer desde o assassinato de seu irmão, Chelton Luis Santos. Chelton foi morto por um policial militar em novembro de 2020, enquanto tentava conter um conflito. “Hoje a nossa família passa por uma situação muito complexa, porque a morte de meu irmão levou um pedaço de todos nós. A gente vive um luto eterno. Nós não temos informação sobre como anda o processo a respeito do assassinato de meu irmão, não temos uma resposta do Estado. Mas sabemos que o policial que matou meu irmão continua trabalhando normalmente, inclusive fui abordado por ele há poucos meses, numa blitz”, relatou o irmão de Chelton.

Letalidade policial e desencarceramento

O militante do movimento negro e professor de Direito, Alexis de Jesus, falou sobre a gravidade dos índices de letalidade policial em Sergipe. “Sergipe é o segundo estado do Brasil com a maior letalidade de pessoas negras e nós não podemos trazer as pessoas de volta, mas podemos seguir juntos. A Audiência de hoje é um marco, o início de uma rede de solidariedade de familiares que foram vítimas de violência policial”, destacou Alexis.

A rapper e escritora Iza Negratcha, integrante da Frente Estadual pelo Desencarceramento em Sergipe, destacou a própria ação do Estado como intensificadora do racismo em nossa sociedade. “A estatística carcerária é algo surreal. Tenho visto e acompanhado muitas coisas no Brasil e vemos que o sistema penitenciário em nosso país é a maior máquina de ganhar dinheiro, é o navio negreiro da atualidade. Mas, as sementes têm sido plantas através de nossas ações e a força dos nossos ancestrais é o que nos permite viver e lutar”, destacou Negratcha.

O defensor público Sérgio Barreto, que também esteve presente à audiência, destacou o apoio da Defensoria Pública à luta antirracista. “Esse é um debate muito importante, em um dia que deve ser de inflexão na nossa sociedade, de preocupações, angústias, dores. Mas também um dia histórico para fortalecermos os caminhos da luta antirracista”, afirmou Sérgio.

 

 

 

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